quinta-feira, 25 de março de 2010

Um fim de semana especial

Toda cidade no final de cada ano, tem o tradicional "jogo da saudade", aquele em que se reune boleiros de dois times que fizeram sucesso no município. Uma cidade em especial, começou essa brincadeira que acabou virando tradição no Tocantins. Essa história aconteceu na querida Miranorte.

Nas décadas de setenta e oitenta, aqui no então norte goiano, era comum surgir nas cidades times de futebol temporários. Isso se dava devido à falta de instituições educacionais e trabalho na região. Os adolescentes acabavam arrumando as malas e partindo rumo aos grandes centros em busca de estudos e empregos. Um fato interessante é que esses times sempre levavam o nome de grandes clubes do futebol brasileiro. O motivo era simples, os uniformes da época era sempre de alguma equipe consagrada.

Em 1975, na cidade de Miranorte, um grupo de garotos capitaneados por Eurípedes Teles, ganhou um jogo de camisa do tricolor baiano, e alí nascia o “BAHIA DE MIRANORTE”. O elenco inicial era formado com Rosa, Antonio Pamonha, Dorge, Teté, Índio, Josafá, Almeida Eurípedes, Benedito, Elcio e Galo. Mas o grupo foi crescendo a cada dia e muitos outros nomes foram incorporando à equipe, ajudando a elevar o futebol da cidade e da região. Foram muitas competições sob o comendo do professor, Antônio Ubiratã. Viagens históricas, partidas inesquecíveis, tudo num pequeno espaço de tempo de apenas três anos. Pois a garotada cresceu e teve que buscar seus ideais, descortinando novos horizontes.

Em 1978 a equipe começou a se desfazer. Mas a semente ficou plantada e no mesmo ano começou a germinar. A nova geração que cresceu à beira do campo, vendo o Bahia jogar, se preparava para regar a plantinha e dar continuidade as atividades futebolística da cidade. Através de Euclides, nascia o LONDRINA E. CLUBE, que mais tarde sobre o comando do saudoso “viuvinho” passou a se chamar CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO ou simplesmente FLAMENGUINHO. Muitos garotos que começaram ali tiveram projeção dentro do futebol, a exemplo de Joanilson um zagueiro que no Internacional de Porto Alegre, chegou a botar o ídolo paraguaio Gamarra, no banco de reservas e Márcio Goiano lateral direito que jogou no Goiás, Portuguesa e muitos outro clubes. Muita gente contribuiu para o crescimento da equipe como os colaboradores, sargento Calixto e José Orlando. Em 1987 pelos mesmos motivos, os atletas tiveram que alçar voos, e o time acabou.

Mas os velhos boleiros acharam uma maneira de reencontrar os companheiros, criando o jogo da saudade. Como recordar é viver o evento anual não para de crescer. As duas equipes se reúnem para uma partida de futebol bem humorada. O encontro é uma farra só, com todo mundo tentando achar um jeito de tirar um sarro nos velhos amigos. E eles vem de toda parte do Brasil e até da terra do tio san (EUA). No jogo vale tudo, sair e entrar novamente, vale até tomar uma loira gelada na beira do gramado, antes de bater um arremesso lateral. Na disputa tem um troféu, mas o que a galera quer mesmo é curtir a festa, que termina com um grande churrasco regado a muita cerveja.

Nesses encontros os velhinhos como são carinhosamente chamados os atletas do Bahia, tem conseguido sair vencedores. Numa dessas vitórias a presença do troféu enfeitando a mesa acabou emocionando alguns atletas. O folclórico goleiro Rosa, que os amigos com carinho o chamam de “Boca de Egua”, parou em frente ao símbolo da conquista, ajoelhou e começou a chorar. O emotivo Neto Bilau, viu a cena se aproximou e indagou:

  • Boca de Égua, porque tu tá chorando?...

O nosso amigo chorão levantou a cabeça, olhou para um lado e para o outro e constatou:

  • Sabe, que eu nem sei!...

    Aí o companheiro solidário não perdeu tempo:

  • Então eu vou chorar também!...

    E os dois ficaram olhando para o troféu e chorando abraçados.

    O encontro de Bahia e Flamenguinho é hoje a maior festa da cidade, quando chega próximo ao fim do ano, o povo fica ancioso. pois este evento serve para matar a saudade de uma galera que carrega no peito o orgulho de ser Miranortense.