sexta-feira, 18 de março de 2011

Futebol na Aldeia

Quando Cabral chegou ao Brasil, encontrou indios. Logo, os nativos são os primeiros habitantes desse grande país tropical. Por isso em qualquer canto de nossa pátria amada, é comum se ouvir histórias da nação indígena. No Tocantins não seria diferente, principalmente pela contidade de etinias que vivem por aqui. E o futebol também tem sua página escrita na história.


No início da década de 80 um grande desportista de nome Antônio, mas conhecido como Toinho da Funai, em suas tarefas junto à nação indígena xerente, resolveu introduzir o futebol nas atividades realizadas com os indios. Construiu um campo na aldeia Porteira perto da cidade de Tocantínia, e começou a ensinar o bom joguinho para os nativos. A novidade fez sucesso e a cada fim de semana, índios de todas as aldeias se reuniam para uma boa “pelada”. Nesta brincadeira até surgiram grandes talentos, o mais conhecido foi o meia atacante Antônio Carlos que chegou a jogar no MEC-Miracema Esporte Clube.

Empolgado com a rápida evolução dos índios, o idealizador do projeto “Futebol na Aldeia”, resolveu testar as habilidades de seus atletas e o poder da equipe. Chamou o time de Miracema para uma partida amistosa na própria aldeia. Meio receosos aceitamos o convite e partimos para o desafio. Literalmente embarcamos rumo à reserva, já que o transporte era um barco a motor chamado de “paco-paco”. Descemos o Rio Tocantins deslumbrados com as belezas naturais que surgiam a cada momento. Depois de algumas horas de navegação chegamos ao destino. Na beira do rio toda a população da aldeia nos esperava. De longe parecia cena daqueles velhos filmes de faroeste em que o mocinho se depara com um bando de guerreiros preste a atacar.

Meio desconfiados subimos a rampa cercados pela a multidão e ouvindo eles conversar sem entender uma palavra. Sem perda de tempo fomos direto para o campo de jogo. A bola rolou e nosso time ficou encurralado, parecia que eles tinham mais de cinquenta jogadores. Quando a gente dominava a bola aparecia de três a quatro marcadores e na maior gritaria. Depois de algum tempo nessa batalha, foi que fomos perceber que eles não guardavam posições, onde a bola estava eles se amontoavam. Passamos então a ocupar os espaços vazios e tocar a bola logo os gols foram saindo. No final dos 90 minutos o placar assinalava 17 a zero.

Final do jogo fomos logo nos preparando para retornar à Miracema. Cercados por toda a nação xerente enquanto tirávamos as chuteiras para podermos embarcar, fomos surpreendidos pela chegada de um velho cacique. De borduna(arma indígena) na mão , ensaiando uns estranhos passos de dança, de repente ele parou, levantou a cabeça, olhou dentro dos olhos de cada um, suspirou fundo e com um bom sotaque indígena mandou seu comentário sobre o jogo.

  • Jogô só um pouquim e foi esse tanto de gôlo, se jogá o dia todo vai ser mais de mile...eh! eh! eh!...

    Na hora caímos na gargalhada com ele, mas não entendemos nada. Só depois descobrimos porque ele teceu este comentário. É que o costume deles era começar a jogar de manhã, só parar para almoçar e voltava pra pelada até escurecer. O pior é que na maioria das vezes o placar não saía do zero a zero.

    Mas o projeto do nosso amigo Toinho, valeu a pena. No final da década a equipe chegou a jogar no Estádio Serra Dourada em Goiânia, contra a equipe escrete de ouro dos cronistas esportivos de Goiás. E com a criação do Estado do Tocantins e a profissionalização do futebol, é comum ver um índio disputando o Campeonato Tocantinense de Futebol.