segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Salve-se quem puder...


Cidades vizinhas sempre cultivam uma tradicional rivalidade, principalmente no esporte. Neste assunto, na década de oitenta, Miracema e Miranorte eram como cão e gato. Cada encontro terminava em mordidas e arranhões. Esta história seria cômica se não fosse drástica...Mas como dizia o poeta, "entre mortos e feridos salvaram-se todos"...


Naquele tempo a maior diversão nos finais de semana eram as competições esportivas. Os torneios regionais eram frequentes em várias modalidades, mas o carro chefe sempre foi o velho e bom futebol de campo.

Em um desses torneios o clássico “Mira-Mira” (Miracema x Miranorte), aconteceu na fase semifinal. A primeira partida foi no Estádio Castanheirão em Miracema. Um jogo para nunca ser esquecido, afinal nesses encontros os jogadores literalmente “davam o sangue” pela a equipe. Para confirmar a frase e manter a tradição, quase no fim da partida a confusão foi formada. Briga geral em campo e no meio do tumulto o atleta de Miranorte Cândido (hoje presidente de clube na Capital Tocantinense) levou a pior, saiu com um senhor corte no supercílio. O atacante do Miracema, Rosacild, foi o autor da façanha, mas eu que estava no meio da "muvuca", na turma do deixa disso, levei a culpa. Fator que me impediu de participar do jogo de volta.

No segundo encontro em Miranorte foi uma verdadeira guerra, toda a cidade se preparou para bater nos jogadores de Miracema. A segurança era pouca não dava para controlar a fúria da torcida. Assim, quando o time chegou em cima do tradicional caminhão da prefeitura, foi cercado pela multidão. O primeiro a descer foi o lateral esquerdo Sávio e foi logo levando um pescoção. Com muita conversa e ajuda de alguns desportistas locais os ânimos se acalmaram.

A bola rolou para noventa minutos de muita catimba e ameaças dentro de campo. O resultado do jogo provocou uma decisão por pênaltis, para desespero geral de nossa equipe. Na época o campo era de terra, sem alambrado, a torcida invadiu e formou um cone perto da área, para ver as cobranças. A disputa começou e cada atleta nosso, batia o pênalti e corria para cima do caminhão. A última cobrança, da série, empataria a partida e provocaria cobranças alternadas. O responsável pela tarefa era o Rosacild, o mesmo que havia nocauteado o nosso amigo Cândido no jogo de ida. Quando ele pegou a bola a torcida começou a cantar em coro.

-“Se fizer vai apanhar...se fizer vai apanhar...se fizer vai apanhar...

Nosso atleta se preparou, tomou muita distância, correu e mandou uma bomba que passou a quase cinco metros a cima da trave...Festa para a torcida e pro time local que se classificou para a final do torneio...O nosso atleta também saiu contente, pois perdeu a classificação mas salvou a pele. Já de volta para Miracema em meio aos comentários sobre a partida, o técnico Dorabel de Souza perguntou”.

- Rosacild o que aconteceu ali, na hora do pênalti?

A explicação veio imediata...

- Dorabel... eu nunca tinha visto tanta gente mal encarada olhando pra mim, com tanto ódio!... Será que eu sou tão feio assim?...

Essa rivalidade durou muito tempo...Os jogos estudantis era como se fosse encontros marcados a cada ano. Só que os combates se limitaram apenas aos resultados limpos conquistados dentro das quatro linhas. Para felicidade geral da nação desportista...

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