segunda-feira, 14 de setembro de 2009

ANO BOM

A cidade de Miracema sempre foi destaque no esporte, principalmente no futebol. Isso rendeu muitas histórias mirabulantes como esta. Que ficou marcada na vida de cada atleta da época.


O ano de 1980 ficou marcado na história de Miracema. Foi o ano em que o Colégio Tocantins sediou um dos melhores jogos estudantis do norte goiano, dando início a uma década gloriosa do evento.

Já no futebol aconteceu um fato histórico. Através do “guerreiro da bola”, Dorabel de Souza, a cidade que tinha sofrido com uma enorme enchente do Rio Tocantins, conseguiu a façanha de trazer para uma partida amistosa, o Vila Nova de Goiânia, na época tetracampeão estadual. O jogo foi em um campo de grama nativa cercado de palha de babaçu. O resultado do jogo foi 3 a 1 para o Vila que tinha no elenco, Roberto Oliveira e Luiz Dário(Ambos técnico de futebol hoje) mas a partida serviu de ponte para o evento mais importante do ano.

Através do superintendente da Federação Goiana de Futebol, Jair Lima, nós fomos convidados a ir a Goiânia, colocar faixa de campeão no juniores do Vila Nova. A viagem foi uma aventura só. Recheada de fatos pitorescos. Começando pelo transporte que foi em ônibus da linha comercial e cada um pagou a sua passagem, levando na mão o endereço de amigo ou parente para descolar uma hospedagenzinha. Teve gente que foi carregado de encomendas. O zagueiro Pedro Nilson, para agradar os irmãos que moravam na capital, levou uma caixa cheia de mangas de várias espécies. Só que na chegada, ao descer do ônibus a caixa rasgou espalhando o produto em plena avenida Goiás e fazendo a alegria de quem passava no momento.

A maioria dos jogadores não conhecia Goiânia, outros nunca tinham saído de Miracema. Isso causou alguns transtornos. O “mico” mais comum foi pegar ônibus errado. O goleiro Edilson Pombo e o volante Chico Louro, só conseguiram chegar ao local do jogo aos 45 minutos do segundo tempo. O jogo aconteceu no dia 1º de novembro no Estádio Onésio Avarenga, campo do Vila. Nós saímos na frente no placar com um gol do volante Rainel cobrando falta, mas os donos da casa viraram para 2 a 1. Apesar da derrota fizemos uma boa apresentação, tanto que o fomos convidados para jogar no dia seguinte no Serra Dourada, contra a seleção goiana de júnior, na preliminar de Goiás e Vila Nova que decidiam o campeonato goiano.

O convite fez a equipe “tremer na base” e começou uma série de fatos engraçados. Primeiro, para jogar no Serra Dourada eram muitas as exigências e a nossa equipe teve que se adequar. Começando pelo o uniforme que nós só tínhamos 14 camisas e os reservas tinham que estar vestidos. A solução foi comprar camisas, pregar números(naquele tempo as camisas não vinham numeradas) para poder entrar no gramado. No vestiário a ficha técnica tinha que ser toda preenchida e nós só tínhamos o treinador. Então os miracemenses presentes viraram membros da diretoria. O então prefeito da cidade, Sebastião Borba, virou o presidente do clube, o médico foi o Raimundo Boi (hoje político), o massagista foi o Manoel Pires (hoje membro do TCE). O interessante é que o massagista levou a sério. Conseguiu uma bolsa oficial e foi à luta. Quando algum jogador caía, nosso massagista não perdia tempo invadia o campo no maior pique. Só que nossos atletas não estavam acostumados com a novidade e antes que ele chegasse para atendê-los, o jogador se levantava. O saldo disso era uma senhora vaia de um estádio lotado.

Em campo até que fomos bem. Os únicos que destoaram foram, o lateral esquerdo, Ezequias e o goleiro Daví. O primeiro um rapaz simples que tinha como profissão o ofício de açougueiro com uma única diferença. Ele pegava o gado para o abate “na unha”. Essa disposição física do garoto, foi prejudicial ao delicado gramado do glorioso Serra Dourada. Por onde ele passava removia todas as placas de grama. A coisa foi tão feia que o administrador do estádio chegou a implorar para o nosso técnico Dorabel de Souza dizendo:

  • Dá pra tirar aquele trator do jogo?...

    Já o goleiro Daví se impressionou com o nome de Miracema passando no placar eletrônico atrás do gol e esqueceu do jogo. Quando gritaram “olha a bola”, e ele virou para o campo a rede já estava balançando.

  • Mas o fato que marcou mesmo, foi a esperteza (entre aspas) do nosso técnico Dorabel tentando enganar o trio de arbitragem. Como aquela era a primeira e única vez daquele encontro, ele achou que os “homens de preto” não reconheceria os nossos jogadores. Assim no intervalo ele colocou o meia Bertrand no meu lugar. O detalhe é que com o mesmo uniforme. Como nós dois somos escurinhos, parecia que ia funcionar. O golpe teria dado certo se o juiz não fosse um bom fisionomista. Já com a bola preste a rolar para o segundo tempo, ele se aproximou do Bertrand, olhou direitinho e mandou o verbo.

  • Esse neguinho não estava no jogo!...

    O suspeito jogador tentando disfarçar indagou:

  • Quem?..eu?...

    E o juiz concluiu:

  • É,...você mesmo!...o outro era mais alto e tinha as “queixadas” mais largas!...

    A artimanha não colou, mas valeu a intenção. Na partida até que fomos bem, apesar de termos perdidos por 4 a 2. para a seleção goiana foi apenas mais uma partida, mas para nós foi o jogo da vida no melhor estádio do Brasil.

2 comentários:

  1. Grande Elcio Dias, gente boa, você tem as melhores cronicas do esporte tocantinense, que bom ler novamente suas historias.

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  2. Parabéns pelas histórias,elas são realmente fantasticas.Saudades dos velhos tempos de miracema.

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