quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"No Escuro"

Este espaço foi reservado para você que adora uma boa história. Dessas que acontecem no meio esportivo e que fica gravado para sempre nas paredes da memória de um bom desportista. Para inaugurar nosso espaço vou contar essa, que aconteceu na queridíssima cidade de Cristalândia. Espero que vocês gostem!...


NO ESCURO


Nos idos dos anos 70, e até meados de 80, aqui no então norte goiano, o futebol era inspirado na copa do mundo do México, onde o Brasil havia conquistado o tricampeonato. Campo gramado, a gente só ouvia falar pelo rádio nas transmissões dos jogos; pois a "telinha" ainda não havia chegado por essas bandas. Os campos de terra eram normais nas cidades da região. As bolas eram sempre marrom, da cor da poeira que subia durante as partidas. Em algumas cidades, hoje famosas como Paraiso e Cristalândia, não havia uma área de terra e os campos eram feitos em cima da pura pedra. Isso ajudou muitos comerciantes de material esportivo. Pois a bola só durava uma semana, e as chuteiras acabavam com três jogos.

Campeonatos eram muito difíceis de ser organizados, devido as estradas de terra muito ruins. Na época das chuvas, vinham os atoleiros e na seca o poeirão colocava em risco a vida dos desportistas. Mas algumas cidades promoviam torneios de fim de semana, chamados de quadrangular(duas equipes da cidade e duas visitantes) e sempre levava o nome de alguma celebridade local.

Era uma festa só, a começar pelas acomodações. Como não havia nenhum tipo de recurso para custear as despesas, os atletas locais hospedavam os visitantes em suas próprias casas. A escolha era feita na hora da chegada da delegação. Os anfitriões olhava o porte físico do atleta e imaginava ele na mesa do almoço. Assim os mais agigantados acabavam ficando por ultimo. Mas no final a gente acabava fazendo uma grande amizade, não só com o jogador mas com toda sua família. Há quem diga que houveram até casamento com irmãs de jogadores.

As regras desses torneios eram simples. No sábado aconteciam duas partidas e no domingo os dois vencedores decidiam o título. O juiz apitava sozinho sem bandeirinhas e era sempre uma pessoa bem conceituada na cidade. No campo só as linhas da área de jogo separavam os jogadores da torcida. As traves não tinham redes e as pessoas ficavam “coladas” no goleiro.

Em um desses torneios, na querida cidade de Cristalândia, aconteceu uma final histórica. Um dos maiores clássico do norte goiano. O confronto foi entre a Escolinha de Miracema, que trazia nomes como Tiãozinho, Rainel, Salvador...e o Atletico Clube Cristal, de Morché, Washington e Wilson. O jogo até que foi bom, apesar das inúmeras pedras de cristal que tiramos de dentro do campo enquanto jogávamos.

Aos 38 minutos do segundo tempo, a Escolinha marcou um gol. Foi o suficiente para a conceituada pessoa que estava apitando esticar o tempo. O objetivo era fazer com que os donos da casa empatassem a partida. Mas o sol foi embora e o empate não saía. Aí o Sr. Juiz resolveu dar uma mãozinha e inventou um penalti. Isso com 59 minutos de jogo. Só pra se ter uma idéia, já estava tão escuro, mas tão escuro, que o atleta Salvador se misturou com a torcida que estava atrás do gol, e quando o jogador Wilson bateu o penalti, o esperto Salvador matou a bola no peito e saiu jogando.

O nosso conceituado juiz achou que o goleiro tinha defendido e resolveu terminar o jogo. Festa total dos visitantes, regada a muita "água que passarinho não bebe" exibindo o belo troféu. E assim esse dia ficou batizado como “o dia em que a falta de uma rede e o escurinho da boca da noite, salvaram um título”.

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